Matt o’brien, um repórter do Washington Post, escreveu recentemente um artigo interessante, embora deprimente, sobre o desemprego prolongado nos Estados Unidos, defendendo a hipótese de que é basicamente uma questão de má sorte: se alguém é demitido em uma economia ruim, tem dificuldade para encontrar um novo emprego; e quanto mais tempo ficar desempregado, mais difícil será encontrar trabalho.
Obviamente, concordo com essa análise – e acrescentaria que os resultados de O’Brien refutam de modo mais ou menos decisivo a história alternativa, de os desempregados em longo prazo (pessoas que estão sem emprego há seis meses ou mais) serem trabalhadores com um problema.
Veja como essa história poderia funcionar. Suponha que os trabalhadores tenham uma qualidade – algo como a capacidade de se manter no emprego – não captada nas medidas de capacitação oficiais, mas que os potenciais empregadores podem intuir. Os trabalhadores sem essa qualidade inefável tenderiam a perder seus empregos e a ter dificuldade para conseguir novos; a dificuldade dos desempregados em longo prazo na busca por empregos refletiria sua inadequação pessoal.
Leia nas entrelinhas de muitos comentários sobre os desempregados – especialmente de pessoas ávidas para cortar os benefícios – e você perceberá que algo parecido é a teoria subjacente implícita.
Mas veja isto: a associação entre qualidade do trabalhador e desemprego deveria ser muito mais forte em uma boa economia do que em uma ruim. Em 2000, com a mão de obra escassa, provavelmente havia algo errado com muitas pessoas demitidas; em 2009 foi apenas uma questão de estar no lugar errado. Então, se o desemprego tivesse relação com características pessoais, estar desempregado deveria ter importado menos na busca por emprego depois da Grande Recessão do que antes. O que as pessoas experimentam na verdade é o oposto, é claro.
Em outras palavras, não é nada pessoal; é a economia, imbecil. E, como indicou O’Brien, essa é outra razão pela qual deixar de oferecer mais estímulos é um crime contra os trabalhadores americanos.
Quando o economista Alvin Hansen propôs pela primeira vez o conceito de estagnação secular, ele enfatizou o papel do crescimento mais lento da população na redução da demanda por investimentos. (Suas advertências tornaram-se irrelevantes com o baby boom no pós-Guerra.)
As discussões modernas retomaram aquela ênfase: o encolhimento da população em idade ativa no Japão parece ser uma importante causa de problemas para o país, e o crescimento mais lento da população na Europa e nos Estados Unidos é um indicador importante de que podemos estar entrando em um regime semelhante.
Mas onde quer que eu levante essas teses as pessoas me perguntam por que não considero boa essa desaceleração do crescimento populacional. Afinal, significa menos pressões sobre os recursos, menos danos ambientais e assim por diante.
É importante perceber que essa desaceleração realmente poderia, e deveria, ser uma coisa boa – mas o que passa por política econômica sólida tem grande probabilidade de transformar esse fato potencialmente bom em um grande problema. Porque pelas atuais regras do jogo há um forte aspecto “bicicleta” em nossas economias: se elas não avançarem suficientemente rápido, tendem a cair.
É um argumento bastante simples. Para ter emprego mais ou menos pleno, uma economia precisa de gastos suficientes para utilizar seu potencial. Mas um componente importante dos gastos, o investimento, é sujeito ao efeito acelerador: a demanda por novo capital depende do índice de crescimento da economia, mais que do nível atual de produção. Por isso, se o crescimento desacelerar devido a uma queda no crescimento populacional, a demanda por investimentos cai – potencialmente empurrando a economia para uma queda semipermanente.
Alguém pode dizer que basta reduzir os juros o bastante para sustentar a demanda por investimento, apesar da desaceleração populacional. O problema é que a taxa de juros real necessária sobre ativos seguros pode ser negativa e, portanto, só é alcançável se houver inflação suficiente – o que se choca com um compromisso ideológico com a estabilidade de preços.
Esse é basicamente um problema técnico, e em um mundo melhor simplesmente o enfrentaríamos e desfrutaríamos dos benefícios de um planeta menos populoso. Neste mundo, porém, problemas técnicos podem de fato causar danos imensos, porque muito poucas pessoas estão dispostas a pensar claramente sobre sua natureza. Por isso nos preocupamos com a desaceleração do crescimento populacional.
Por Paul Krugman
Fonte: Carta Capital