Destruição do Museu Nacional: Uma Tragédia Anunciada
Data da publicação: 7 de setembro de 2018 Categoria: Geral, NotíciasNosso pesar diante do incêndio que destruiu o Museu Nacional no Rio de Janeiro – tragédia que abalou profunda e irreparavelmente a memória da Ciência e da Cultura no Brasil – nos move no esforço de fazer do luto a luta.
Há décadas, gestores, pesquisadores e professores que trabalham na UFRJ e no Museu têm denunciado as precárias condições de conservação e manutenção dessa instituição que acabou de completar 200 anos de existência. A falta de um sistema de prevenção de incêndio era tomada como anúncio de uma tragédia iminente. O descaso dos sistemas de governança diante do nosso patrimônio histórico, artístico e cultural, agravou-se mais recentemente na cena do golpe que segue em curso, desde o qual as verbas destinadas ao Museu passaram a declinar ainda mais. A tragédia de hoje não pode ser tomada como acidente, mas como resultado criminoso do descaso de um Estado omisso e desinteressado, configurando-se uma violação do direito de uma Nação ao resguardo de sua memória.
Agora em 2018, o Museu estava sem receber o repasse de verbas necessário e suficiente para uma manutenção segura. Isso já reflete o quadro do abismo para o qual o governo golpista nos empurra, com perdas intensificadas e insustentáveis nos campos da Saúde, Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia e Serviços Públicos, como efeito da Emenda Constitucional do Teto dos Gastos Públicos, que autoriza o Governo a congelar por 20 anos os investimentos nesses setores.
Em tal contexto, o que mais do nosso patrimônio tombará entre chamas? Nosso grito de dor e indignação neste momento não traz de volta 200 anos de história e um patrimônio perdido, onde se abrigavam peças museológicas e conhecimentos distribuídos em diferentes áreas das ciências: história, geografia, arqueologia, paleontologia, botânica, antropologia biológica e social, política, artes, dentre outras. Todavia, esse grito alerta para o fato da fragilidade em que se encontram nossas instituições de saber, cultura e memória. Em diferentes regiões do país, temos prédios tombados que por si representam uma memória a ser resguardada e são espaços de preservação e exposição de acervos importantíssimos da Cultura em nosso país, com exemplares de diversas regiões do mundo.
Não podemos nos calar engasgados em nossas lágrimas. Que essa trágica lição nos mova a recusar o jogo político que, na chamada “ponte para o futuro”, inverte as prioridades sociais da Nação, servindo à acumulação privada e rentista, ao passo em que torna célere o desmonte de nossas conquistas históricas, culturais e sociais, aprofundando desigualdades e injustiças. Que sirva de lição também no sentido de nos ensinar e sensibilizar para valorizarmos mais nossos espaços de memória, nossa ancestralidade. Visitemos mais nossos museus e nossos acervos! Exerçamos também nossa responsabilidade educativa como cidadãos e cidadãs!
Coletivo Graúna
Fortaleza, 04/09/2018
Fonte: Coletivo Graúna, página do Facebook.