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Crônicas da vida Corporativa e do Trabalho

Data da publicação: 23 de maio de 2018 Categoria: Artigos, Geral

“… A obsessão produtivista e a sanha controladora chegam à academia e seus complexos processos de geração de conhecimento. O que era bom para câmbios e motores parece ser bom também para artigos científicos. Vistas (com alguma justiça) como lerdas e incapazes de atender as demandas sociais, as universidades tornaram-se alvo de burocratas interessados em mostrar serviço. Sua arma de preferência parecem ser os sistemas de avaliação de desempenho acadêmico, amparados em indicadores supostamente capazes de traduzir a complexa teia de atividades de ensino e pesquisa em números.
Alguns acadêmicos têm respondido com estoicismo às pressões. Outros resistem, defendendo sua zona de conforto. Lamentavelmente, a academia tem também gerado comportamentos de burla, uma patologia que pode ganhar escala de pandemia, contaminando todo o corpo científico. Tais comportamentos, frequentemente chamados de gaming, são variados. Diante da pressão pelo aumento de publicações, alguns pesquisadores recorrem a periódicos predadores (nos quais se paga para publicar) e a periódicos inclusivos (que publicam dezenas de artigos por edição e têm processos frouxos de seleção de artigos).
Outros dividem suas pesquisas em blocos de resultados, visando multiplicar o número de artigos publicados, um comportamento conhecido como ciência salame. Outros ainda pegam carona com colegas e orientandos, coassinando, sem constrangimento, artigos para os quais pouco contribuíram.
Tais condutas, antes isoladas, estão se tornando comuns. Conforme se espalham, tornam-se o novo normal. Novas gerações de pesquisadores, mestrandos e doutorandos são socializadas segundo os novos costumes, dando mais atenção para publicações e suas recompensas (sejam simbólicas ou pecuniárias) e menos atenção para o conhecimento gerado e sua aplicação para benefício social. Perdem espaço os abnegados e altruístas, que deveriam modelar a cultura acadêmica. Ganham espaço burocratas e mercantilistas, levando a ciência para mares desconhecidos.
O risco, caso uma massa relevante de cientistas passe a jogar o novo jogo, é que a ciência pode se tornar intrinsecamente corrupta, e a comunidade acadêmica pode perder a confiança do público. As consequências, observam Edwards e Siddhartha, seriam devastadoras para a própria ciência e para a sociedade.
O que fazer? Primeiro, é preciso reconhecer que temos um problema.”

Fonte: THOMAZ WOOD JR. CAPITALISMO SELVAGEM 4: Crônicas da Vida Corporativa e do Trabalho, 1ª edição São Paulo Edição do Autor 2018

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